
Alvor, julho 2006 - andava por lá, deambulando pela parte antiga desta airosa terra do barlavento algarvio, quando este golden retriever, me "chamou" do alto do muro talvez para me contar as suas mágoas caninas...o apelo foi ouvido, até porque os piratas são sensíveis, contrariamente aquilo que se pensa - é mais a fama do que o proveito...Parei, observei-o e não resisti a fazer as festas da praxe.
Então aí ele quase se desfez em lágrimas e contou-me o "preço" que tem que pagar por uma vida "feliz" e confortável com comida, cama e roupa lavada.
Contou-me a inveja com que fica cada vez que vê um vira latas sem trela e sem dono, passeando a seu belo prazer às horas que muito bem entende e por onde lhe dá na real gana...
Eu disse-lhe que eles são magros, sujos, esfomeados, sem eira nem beira mas ele teimou que se esse fosse o preço da liberdade canina não se importava nada de o pagar.
Admitiu que não passa fome, anda bem tratado, com as vacinas em dia e tudo o mais, mas só passeia quando o dono está para aí virado e por onde ele muito bem entende, ficando depois horas intermináveis "atrás das grades" invejando a felicidade canina dos vira latas que lhe passam à porta em trote meio provocador...
Até quase que lhe disse: pets de tudo o mundo uni-vos !
Mas depois, ponderei bem e cheguei à conclusão que esta fábula que experimentei constitui uma crua metáfora da vida real do bicho homem.
Despedi-me e continuei a caminhada pensando, cão como nós...





