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Parei, observei-o e não resisti a fazer as festas da praxe.
Então aí ele quase se desfez em lágrimas e contou-me o "preço" que tem que pagar por uma vida "feliz" e confortável com comida, cama e roupa lavada.
Contou-me a inveja com que fica cada vez que vê um vira latas sem trela e sem dono, passeando a seu belo prazer às horas que muito bem entende e por onde lhe dá na real gana...
Eu disse-lhe que eles são magros, sujos, esfomeados, sem eira nem beira mas ele teimou que se esse fosse o preço da liberdade canina não se importava nada de o pagar.
Admitiu que não passa fome, anda bem tratado, com as vacinas em dia e tudo o mais, mas só passeia quando o dono está para aí virado e por onde ele muito bem entende, ficando depois horas intermináveis "atrás das grades" invejando a felicidade canina dos vira latas que lhe passam à porta em trote meio provocador...
Até quase que lhe disse: pets de tudo o mundo uni-vos !
Mas depois, ponderei bem e cheguei à conclusão que esta fábula que experimentei constitui uma crua metáfora da vida real do bicho homem.
Despedi-me e continuei a caminhada pensando, cão como nós...