Tuesday, October 24, 2006

Quem se atrasar não pega mar




Quem se atrasar não pega mar

Uma madrugada que prenunciava uma manhã sublime com condições de mar excepcionais para mais uma descida no mundo azul da "Esmeralda do Atlântico". A excitação era grande e reinava o habitual espírito aventureiro entre o grupo de caçadores de imagens.
As palavras disciplinadoras do velho lobo do mar desdentado feito skipper de ocasião, tinham ecoado sóbrias e seguras na véspera: "quero vos aqui sem atrasos antes dos primeiros pio dos atobás !" ; "os golfinho não espera lá na baía deles !" ; "quem tiver bunda mole fica em terra !"
"tou farto de frescura de bicho soneca !" ; "quem se atrasar não pega mar!" .
Palavras sábias que foram tomadas à letra pela ululante turba da adição marinha.
Neptuno dixit !
A alvorada foi às cinco da madrugada e às seis já estávamos zarpando do cais com toda a parafernália necessária. Até os "bichos soneca" que só tinham conseguido adormecer depois da meia-noite, não faltaram à chamada e ainda que meio sonambulos, logo acordaram com os primeiros balanços da maré...
Após uma hora de arte de bem navegar, o velho lobo do mar deu a ordem.: "Larga o ferro Tonico !" e continuou "Toca a equipar e molhar a bunda galera !"
Iniciamos a lenta descida pela corda d'âncora até aos 15 metros e depois cada grupo escolheu o seu rumo, asseguradas as coordenadas de posição e o tempo de fundo que tinham sido previamente definidos.
Mais uma vez a extraordinária visibilidade - já às sete e meia da manhã - deixou-nos quase em meditação transcendental ! Uma benesse para os sentidos...uma sensação única de quase regresso às origens...
Decidimos seguir um cardume de xiras fusiformes, de listas amarelas deixando-nos ir com a corrente que embora fraca era perceptível. Seguiamos todos, nós as xiras e uma tartaruga de pente que se juntou ao grupo nadando à nossa volta curiosa, atraída pelas bolhas e pelos movimentos conhecidos dos "mamiferos mergulhantes".
Foi então que fiz sinal aos meus companheiros de percurso e me imobilizei à espera de "disparar" para recolher mais umas imagens daquela vida fabulosa .
Foi então que me calhou em sorte o colorido exemplar que deixo para vossa contemplação, uma vez que o património biológico a todos pertence e é digno de por todos ser admirado e preservado como precioso legado para as gerações futuras.
Satisfeito por ter recolhido mais um troféu digital, fui lembrado pela sinalética habitual entre a piratagem de fundo que estava na hora de começar a lenta ascensão em direcção à superfície regressando ao barco do mestre Marinho.
Aquelas palavras ainda ecoam.: "Quem se atrasar não pega mar !"

Mare Nostrum




É uma "coisa" viva, um mundo pertencente a tutti quanti que dá o cognome ao corpo celeste em que vivemos - Planeta Azul. A essa "coisa" devemos quase tudo, embora muitas das vezes não tenhamos disso consciência.
A hidroesfera que nos cerca é hiper eclética em termos biológicos. A biodiversidade é reinventada todos os dias. É o elo fundamental do ecosistema global. E quantas vezes fazemos dele um mero depósito de dejectos civilizacionais, um mega recreio disfuncional onde exploramos a biomassa até à exautão, onde o cruzamos nas nossas viagens intercontinentais, como se fosse uma mera auto estrada sem portagem...
Existem limites de sustentabilidade que se não forem observados irão por em causa a nossa sobrevivência futura como espécie dominante. Podemos até evoluir "darwinisticamente" para qualquer coisa acéfala, invertebrada, sem consciência de nós próprios, mas se atingirmos tal estado não seremos mais humanos, seremos outra coisa, regressaremos eventualmente ao seio original, ao começo do fim ou a um reinicio, como se Deus fizesse um "reboot"...
Mare Nostrum

Thursday, October 19, 2006

Elas existem ?

Talvez só na Eliada e Odisseia de Homero...mas eu não acredito. Estou sempre na expectativa de encontrar alguma antes que o oxigénio se acabe...sempre que olho para o manómetro e a pressão se aproxima dos 50 ba e a ditadura do red zone se impõe, obrigando-me à ascensão em direcção ao reino do homo sapiens, fico à beira do desespero imaginando o que seria ter guelras que me permitissem ficar por lá uns dias seguidos...
Mas qualquer dia, quem sabe ? É sempre bom sonhar com aquela visão sublime de uma sereia em movimentos de singular hidrodinâmica, planando, circulando ao redor, atraindo-me com aquele canto único irresestível em direcção a uma perdição azul de mare profundis...

Caffè Amore

Recomenda-se a leitura nestes dias que precedem o Inverno. Uma literatura leve, com ingredientes de fácil digestão...Nicky Pellegrino escreve de forma fluida numa narrativa simples e frontal que nos prende e delicia página a página com amor, Itália e pasta...assim mesmo, sem grandes densidades literárias mas com a beleza intrínseca das coisas simples.

Thursday, October 12, 2006

De volta a porto seguro

Ao longe o mar...neste bar aparentemente vazio, contemplo o companheiro de tantas aventuras, vejo, oiço e sinto o seu efeito calmante...uma vastidão que nos faz quase regressar ao líquido amniótico do ventre materno.
Uma alma junto dele, nunca se perde...